Ex-comandante da Rota causa barulho: ‘Intervenção militar para defender democracia não é golpe’


O coronel Alberto Sardilli, militar da reserva, concedeu uma entrevista bombástica para Folha nesta quinta-feira (26). Ex-comandante da Rota, batalhão de elite da Polícia Militar de São Paulo, o militar afirmou que a maioria da tropa é bolsonarista. E que por isso haverá adesão de policiais, inclusive da ativa, ao ato de 7 de setembro na avenida Paulista.

“Não são apenas as ideias do presidente. O comportamento do governador faz a tropa ir para o lado do Bolsonaro. O presidente é militar, a tropa se identifica com essa questão, ele preza valores que são os da PM há 200 anos. O governador [de São Paulo] acha que a tropa que amassa barro, que toma sol e chuva, vai lamber o sapatinho italiano dele” — disse Sardilli.

Questionado sobre qual valores seriam esses que são compartilhados entre Bolsoanro e a PM, ele respondeu:

“Valores da família, da correção, da transparência, de falar a verdade. E de Deus principalmente. A tropa normalmente é formada por pessoas muito simples, valorosas. Não estão acostumados com mentira. Eu concordo que a forma como o presidente se expressa cria às vezes uma indignação. Mas indignação mesmo é ouvir mentira deslavada. A PM ouviu uma promessa de campanha de que seria a segunda mais bem paga do Brasil. O cara justifica usando tudo que é artifício. A tropa não é trouxa. Prefere quem fala palavrão, mas fala a verdade”.

Sardilli ainda saiu em defesa de seu colega de farda, coronel Aleksander Lacerda, afastado de uma função de comando após ter feitos postagens convocando populares para a manifestação em uma rede social. Segundo ele, a punição sofrida por Lacerda enfureceu a tropa e aumentou a adesão de policiais ao protesto.

“Até sábado, havia um movimento razoável. Depois do episódio do coronel Aleksander, a coisa tomou uma proporção muito maior. O pessoal não aceitou, não viu com bons olhos a intervenção política do governador. A tropa e mesmo os oficiais da ativa ficaram inconformados. Falam de ala bolsonarista na PM, eu discordo. A maioria da PM é bolsonarista. Muito mais da metade, mais de 80%” — afirmou. “Vai ter muito PM que vai para o ato por causa disso” — acrescentou.

Indagado sobre qual seria o grau de comprometimento da Polícia Militar com a democracia, Sardilli disse:

“Militar estadual sabe a missão que tem. Não vai embalar interesse politiqueiro de ninguém. A PM de São Paulo é tropa reserva das Forças Armadas, isso é dispositivo constitucional. A disciplina enverga, mas não quebra. A gente é tropa de Estado, não de governo. Governador fica quatro anos, nós vamos completar 200 anos. Já passamos por revolução, guerra, a gente é legalista. Agora, não se enganem. A gente não fala, não vai se expor com discursos, mas age na hora que tiver que agir conforme a Constituição. Se o Exército entender que precisa tomar alguma medida, as polícia militares continuam seguindo a Constituição.”

O coronel da reserva ainda falou que pode ocorrer uma eventual intervenção militar para o país voltar à condição democrática original.

“Não vou colocar nomes aqui. Mas a gente vê medidas que inconformam a população. Vamos seguir o que diz a Constituição. Se realmente houver quebra da paridade dos Poderes, da independência, certamente vamos ter que tomar uma medida para voltar à condição democrática original. O que a gente mais preza é a democracia” — declarou.

Perguntado se isso não seria um golpe de Estado, Sardilli rebateu:

“Não é golpe. Golpe é ter meia dúzia de generais e depor o presidente, independente de condições anteriores. Agora, você intervir em uma condição em que determinado órgão, a exemplo do STF, toma medidas não refletindo o senso de justiça para a maioria da população brasileira, não acho que é golpe. Se você vai apanhar de alguém, você se defende. E é o papel das Forças Armadas, defender o país.”

Fonte: Folha


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